Salvar o rio é possível
O Movimento em Defesa do Rio organiza a 3ª Caminhada pelo Rio Tinto no próximo dia 19 de Abril, com partida às 10 horas da praceta do Parque Nascente.
O rio Tinto voltará ao centro das atenções, porque continua (apesar de poluído e desprezado) a ser um símbolo mobilizador e catalisador da cidade de Rio Tinto, porque se trata de um recurso natural a preservar.
Sabemos da descaracterização da cidade nas últimas décadas, da perda da sua identidade, da sua transformação num enorme dormitório desorganizado sob o ponto de vista urbanístico e social. O saudável orgulho dos riotintenses, desapareceu soterrado por urbanizações desordenadas, o desrespeito pelos recursos naturais, a ausência de estruturação de espaços de fruição e utilidade pública e a falta infra-estruturas de apoio social e cultural.
Acredito porém, que chegou a altura de salvar o rio Tinto. E, numa época em que a auto-estima está em valores muito baixos, é necessário encontrar projectos mobilizadores que incutam esperança no futuro.
Salvar o rio, é recuperar a vontade desta terra se reafirmar, ter vida própria, distinta das demais e ciente dos valores históricos e ambientais que urge revitalizar. Salvar o rio, é realizar as soluções técnicas que o permitam, é garantir uma cobertura de esgotos a 100%. Salvar o rio, é solucionar os problemas causados pela ETAR de Rio Tinto (estação de tratamento de águas residuais) cuja qualidade tratamento é mais do que duvidosa. Salvar o rio, é estabelecer uma fiscalização séria e eficaz das ligações dos efluentes industriais. Salvar o rio, é desenvolver uma consciência de que todos somos parte da solução, fazendo as necessárias ligações dos esgotos domésticos às linhas de saneamento municipal. Salvar o rio, é estarmos despertos, é mantermos a exigência.
Em diversos momentos nas suas aparições públicas e nos domínios da imprensa, os poderes políticos e administrativos, têm rompido aqui e ali o seu encavacado silêncio sobre o rio Tinto jurando resultados práticos. Mas nos gabinetes (dos respectivos órgãos de poder) continuam a negar-se (até hoje) à sua concretização. E mais recentemente declararam de novo, atenção e mais disposição para resolver o problema.
Não me recordo de tamanha unanimidade e da vantagem que isso representa. Mas tal implicação tem de resultar em acção, em projectos no terreno. A falta de recursos financeiros não desculpa tudo: há que fazer opções e concluir uma eficaz rede de esgotos global, há que assumir esta campanha com todos os riotintenses.
São já muito significativos os passos dados pelo Movimento, escolas e outras entidades pela despoluição e reabilitação do rio e por uma modificação da atitude perante os graves problemas ambientais. As mentalidades mudam-se através de ideias e mensagens que motivem a acção.
Há mais de vinte séculos, os romanos, civilização culta e desenvolvida (que por estas bandas também edificaram) tinham o culto da água, desenvolveram as suas cidades com eficazes redes de esgotos e requintadas zonas balneares. Se voltassem, certamente ficariam surpreendidos com o desprezo e abandono a que fomos votando o rio Tinto a sua bacia hidrográfica.
Não há alternativa. Não é possível continuarmos a varrer o lixo para baixo do tapete. Do mesmo modo que não basta colocar um pouco de perfume; é sobretudo necessário tomar banho.
Daí que só uma elevada participação poderá activar a decisão em direcção à reabilitação do rio, valorização e requalificação do património natural e cultural.
Paulo Silva
Move Rio Tinto
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