A despoluição do rio Tinto pode ser uma realidade.
É com tristeza que me apercebo da opinião descrente de algumas pessoas quanto à possibilidade de despoluir o rio Tinto. A despoluição deste rio não é, e nunca foi, uma tarefa difícil de realizar e muito menos impossível.
Então porque o rio Tinto está poluído e porquê a decisão do entubamento?
Infelizmente, devido à fraca qualidade dos nossos políticos e governantes e à falta de educação ambiental das populações, os rios tornam-se progressivamente em paisagens cada vez mais degradadas. Com o crescimento das cidades, são descarregados todo o tipo de resíduos sólidos e esgotos, em proporções cada vez maiores , acompanhando o crescimento da cidade. Com o seu apetite voraz, a cidade vai ocupando as zonas ribeirinhas, eliminando toda a vegetação associada ao rio, até modificar completamente as suas margens com a introdução de paredes de betão. A degradação da qualidade da água será o mote para o entubamento total do rio e para a ocupação definitiva do seu espaço, fazendo-o desaparecer completamente do mapa da cidade.
O rio, ao invés de ser fonte natural de água (o componente mais importante do nosso planeta e sem o qual simplesmente não existira a vida) e fonte de vida (habitat para muitas espécies de animais, vegetais e outros microrganismos) passa simplesmente a ser um obstáculo a ser transposto.
O que fazer para ter um rio despoluído?
A tarefa de despoluição de um rio é possível por uma questão muito simples. O rio é um sistema dinâmico e cheio de vida e portanto com capacidade de se regenerar.
Em condições normais, os rios têm um elevado poder de depuração. Os microrganismos aeróbios, que se encontram normalmente na água, serão responsáveis pela biodegradação da matéria orgânica (principal constituinte dos esgotos). Para este efeito estes pequenos organismos necessitam utilizar o oxigénio que se encontra dissolvido na água. Quando se dá uma descarga excessiva de esgotos no rio, a concentração de matéria orgânica aumenta consideravelmente. Devido ao excesso de alimento disponível, os microrganismos aeróbios vão-se multiplicar e continuar a alimentar-se dessa matéria orgânica, provocando a diminuição acelerada do oxigénio dissolvido na água. Sem oxigénio, todos os outros seres vivos mais desenvolvidos, como os peixes, morrerão por asfixia.
Nota: Como exemplo, foco um caso noticiado de uma empresa de suinicultura que optou por livrar-se dos seus resíduos num rio próximo durante a noite. Como resultado, no dia seguinte pela manhã encontraram-se milhares de peixes mortos a boiar nas águas do rio, pondo a descoberto o crime ambiental cometido na noite anterior.
Depois dos seres vivos mais desenvolvidos já terem morrido por asfixia, até os próprios microrganismos aeróbios sofrerão com a ausência de oxigénio. Estes darão lugar aos microrganismos anaeróbios que não necessitam de oxigénio para se alimentarem da matéria orgânica presente na água. O particular destes microrganismos é o facto de ao degradarem a matéria orgânica produzirem sulfureto de hidrogénio que além de acidificar a água será responsável por um odor forte e desagradável, vulgarmente conhecido “cheiro a ovo podre”.
Nota: Existem ferramentas analíticas para determinar o nível de poluição das águas de um rio. A principal é a determinação de um parâmetro denominado carência bioquímica de oxigénio (CBO5) que dá-nos uma ideia do nível de poluição por comparação com valores de referencia. A CBO é definida como a quantidade de oxigénio dissolvido na água, que será consumida pelos microrganismos aeróbios ao degradarem a matéria orgânica.
Com efeito, é de extrema importância a identificação de todos os focos de poluição e a construção de um sistema de saneamento básico capaz, que permita a recolha e a condução das águas residuais, que antes iam desaguar no rio, para uma estação de tratamento de águas residuais (ETAR). Desta forma eliminamos pela raiz a parte mais importante do problema.
A alteração das margens dos rios é outro erro grave. Necessitamos dar ao rio espaço para se expandir, pois o rio passa por ciclos de cheias e secas em sintonia com as estações do ano. A substituição dos solos e da vegetação ribeirinha por paredes e leitos de betão ou até mesmo entubamento total do rio impede a infiltração da água nos solos, aumentando o caudal do rio e agravando ainda mais os problemas associados às cheias. Além disso, são nas zonas adjacentes ao rio que muita vida se desenvolve e um rio desprovido de vida animal e vegetal perde capacidade de auto-regeneração o que conduzirá à morte completa do rio, transformando-o definitivamente num grande tubo de esgoto.
O que ganhamos com um rio despoluído a passar pela nossa cidade?
É sinónimo de qualidade de vida para Rio Tinto, um rio despoluído em harmonia com zonas verdes que funcionem como corredor biológico para aves e outras espécies de animais, contribuindo para a melhoria da qualidade do ar. Simultaneamente, ganhamos novas zonas de recreio, uma melhor paisagem e uma valorização sem precedentes para a nossa cidade.
Só temos a ganhar com a despoluição do rio! Por este motivo, convido-vos a associarem-se à caminhada pelo rio Tinto no próximo dia 19 de Abril. Vamos conhecer melhor o nosso rio e divulgar as enormes vantagens em obtermos UM RIO VIVO!
Rio Tinto, Abril 2009
Luiz Mesquita Pinto - MoveRioTinto
Investigador estudante de doutoramento em Química Orgânica
2 comentários:
Eu penso que a voz da razão deve ser ouvida atentamente. Daqui envio um abraço solidário pela luta da despoluição do Rio Tinto. Em frente é o caminho.
É-me impossível ir porque moro longe, mas apoio incondicionalmente a vossa causa.
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