quarta-feira, 2 de maio de 2012

Uma reportagem bem humorada da caminhada à nascente, feita por uma das participantes (complementando o post anterior)

Abril, 21, fez carrancas. Amanheceu sorridente o 28, em combinação com S. Pedro, que é o senhor do tempo. E, se a 21 choveu, foi porque o pedido atrasou, não chegou, (terá partido?), ficou esquecido, pois, se fosse enviado a tempo, S. Pedro, que manda a chuva, teria dado um jeitinho, que, santo que envia a chuva, também a pode suster, e ele até simpatiza com gente que "anda" p'los rios, ou com eles, tanto faz, não fosse o responsável pelos rios que há (cá) na Terra.
Mas hoje foi diferente, alguém enviou o pedido, e terá usado mais que um meio para ser mais eficaz e não ficar esquecido, e, solícito, S. Pedro, lá enviou um sol lindo de encantar. Pelas nove da manhã, cinco ou seis dúzias de almas, entre os seis e os sessentas, mais um cãozinho simpático, juntaram-se com o mesmo fim e, abençoadas com o sol, foram caminhar nas calmas. Pedro Teiga, discursou e a seguir "desertou"(*). E muito faz este homem por uma causa que não é sua: animar e incitar aqueles que no seu passado têm um rio vivo e limpo e vivem agora quase indiferentes, convivendo lado a lado com um curso moribundo. No Caneiro nos quedamos e o Moreira falou: das lavadeiras, das pedras identificadas, do coradouro das roupas, (espaço roubado há pouco, ao rio tão maltratado), das festas que ali havia, da ribeira de Baguim, dos peixinhos... E lá o fomos seguindo, o rio Tinto, claro está, umas vezes claro, quase transparente, e outras vezes nem tanto. Uma parede inesperada, surgiu entretanto, e ia gorando o intento de quem, neste dia abençoado, queria chegar à nascente. Os organizadores, incansáveis, lá nos foram orientando. Contornamos a parede e à linha férrea chegamos. Que susto! Que "fixe"! De um lado para o outro íamos atravessando para não perdermos nada. Parecíamos actores de um qualquer filme de acção. Regressei de imediato à minha vida passada e quis experimentar se, no carril, ainda me equilibrava. No sopé do Parque Aventura, vulgo, antiga lixeira, havia uma "planície" logo ali, na Palmilheira. Um moinho lá no meio, do tempo do rio em força, descoberto por quem sabe, que quem o vê, enfeitado de heras bem verdes nesta paisagem tão calma, diria tratar-se apenas da casinha de um poeta que há muito tempo morreu e na paisagem se integrou sendo agora tudo aquilo: calma, verde, terra, pássaros... Pena o cheiro pestilento a destoar no conjunto, mais aquele rato morto e o pássaro também. Este espaço tão bonito, não passa afinal disso: belo, mas com senão. É só "plástica" como é moda, pois, basta um olhar atento para descobrir, no fundo, disfarçados, encobertos, venenos imundos. E o pobre rio, que devia ter e dar vida à terra, carrega só porcarias que ali lhe chegam da Maia e da montanha de lixo que é hoje - Parque Aventura. Saímos do espaço campestre, chegámos ao citadino. Ermesinde, Maia, Baguim, mas que grande confusão! Dum lado a auto-estrada, do outro o MacDonald's, lá ao cimo a Santa Rita... A estrada nacional é preciso atravessar e, como se adivinhasse de uma boa causa tratar-se, até o trânsito parou para nos deixar passar. Continuamos a subir, rumo a Montes da Costa que é onde a nascente se mostra. É Costa, ninguém duvida, mas dos Montes nada resta, pois, em nome do progresso, abateram-se as matas para "plantar" cimento que é (ou foi), muito rentável no nosso tempo. Lá chegámos ao destino e, à nossa espera, estava a engenheira Ana Silva um tanto atrapalhada, pois provavelmente com tanta gente não contava. Abriu-se a mina e os mais corajosos atreveram-se a descer, a contemplar... e poderão desmentir que, apesar do nome que tem, o rio, onde nasce, não é Tinto, a sua água é limpida, é cristalina, e. se não fosse tão maltratado, poderia ser recuperado. Do regresso nada sei, não pude testemunhar, um músculo traiçoeiro começou a dar sinal, obrigando-me a ficar. Aos organizadores e àqueles que deram a cara, obrigada, e, até à próxima caminhada!

(*). NA- Nesse dia, Pedro Teiga tinha agendada a participação numa reunião de uma associação de que faz parte. Mas fez questão de estar presente na parte inicial desta caminhada.

1 comentário:

JEsanto disse...

Muito bom. Só um reparo, a idade dos caminhantes variava entre os 5 e os sessentas. É bom começar cedo, e o Miguel começou nestas caminhadas do Rio antes de fazer 2 anos.